Fotos de vítimas assassinadas por policiais são encontradas em computador de PM preso por simular confrontos
07/12/2024
Material foi encontrado em pastas no notebook do soldado Lucas Alexandre Rufino Araruna. Defesa do policial disse que imagens são de um grupo formado por policiais, onde os membros compartilham notícias relacionadas a casos de polícia. Gleison Manuel Eduardo, Royner Alexander Peres e Jonas Miqueias da Silva, assassinados em confrontos policiais
Reprodução
Investigadores encontraram fotos de ao menos cinco jovens assassinados por policiais militares no computador do soldado Lucas Alexandre Rufino Araruna, preso desde abril deste ano por suspeita de simular confrontos policiais para matar pessoas. Os documentos, obtidos com exclusividade pela Rede Amazônica, foram enviados à Justiça e Ministério Público de Roraima na última terça-feira (3).
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As investigações fazem parte da operação Janus, que também investiga o sargento Arnaldo Cinsinho Silva Melville e o soldado André Galúcio Souza por suspeita de envolvimento nos crimes. Todos estão presos desde abril.
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As fotos estavam em pastas de um HD do notebook do PM e são de vítimas que faziam parte de facções criminosas e tinham envolvimento com crimes como tráfico de drogas e assassinatos, segundo as investigações. Das sete fotos encontradas, ao menos cinco ocorreram em supostos confrontos policias. Outras duas estão em investigação.
Entre as vítimas estão:
Jonas Miqueias da Silva, morto em 15 de maio de 2022;
Royner Alexander Peres, morto em 08 de novembro de 2022;
Alcimar Weslley, morto em 10 de novembro de 2022;
Isaac Leandro Verdadeiro, cadáver encontrado em 13 de novembro de 2022. A morte é investigada;
Gleison Manuel Eduardo Clemente, morto em 5 de novembro de 2022;
Hugo Giovanny Bentes, morto em 09 de dezembro de 2023. A causa da morte é investigada;
Ricardo Nunes Bragança, morto em 06 de janeiro de 2023.
Procurada pela Rede Amazônica, o advogado Diego Rodrigues, que faz a defesa do policial, disse que as imagens mencionadas são de um grupo formado por policiais, onde os membros compartilham notícias relacionadas a casos de polícia, o que seria comum nesse contexto.
Também afirmou que não há qualquer mensagem ou evidência de que Araruna tenha escrito ou enviado as imagens em questão, ressaltando que se tratam de conteúdos compartilhados no grupo.
O documento destaca que as fotos foram tiradas em abordagens antes dos suspeitos serem mortos. Além disso, trocas de mensagens entre policiais indicam relação entre alguns dos casos.
No caso de Gleison, há um print de uma troca de mensagens em um grupo de policiais. No trecho, um PM cobra agilidade dos colegas, pois ele teria baleado outro policial. Gleison foi assassinado no mesmo dia (veja abaixo).
Print mostra conversa entre policiais
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Já no caso de Jonas Miqueias, o PM guardava uma foto dele, datada em 26 de novembro de 2022, com com uma espiral cor verde e no centro uma caveira. Ele foi morto em maio de 2023. Para os investigadores, indica que ele "estaria na mira para morrer".
Hugo Giovanny morreu no dia 9 de dezembro. A morte é investigada, no entanto, o documento indica que ele era suspeito de ter invadido a casa de um policial militar meses antes.
A defesa dos soldados Lucas Araruna, André Galucio e o sargento Arnaldo Cinsinho Melvile, os três presos na segunda fase da operação Janus, pediram na Justiça a revogação da prisão preventiva dos policiais.
O pedido foi negado. Eles respondem a crimes graves, que repercutiram na sociedade, segundo a Justiça, que precisa de mais tempo para a instrução criminal.
Operação Janus
Os três policiais são alvos de uma ação coordenada pela Secretaria de Segurança Pública (Sesp) em parceria com a Polícia Civil, deflagrada em abril. As investigações da Sesp e Polícia Civil apontam que os policiais militares investigados entravam nas residências das vítimas, mesmo sem ordem judicial e, em algum casos, sem acionamento para ocorrência.
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Eles justificavam a resistência por parte das pessoas para realizar as execuções. Após atirar nas vítimas e matá-las, os suspeitos levavam as vítimas para o hospital e retiravam as cápsulas do local do crime sob a alegação de prestação de socorro.
No entanto, segundo as investigações, eles manuseavam os corpos com descaso e em "100% dos casos, os socorridos já chegaram mortos" no hospital. A suspeita é de que eles adulteravam os locais dos crimes para dificultar o resultado da perícia da Polícia Civil no local. À época, a Polícia Militar repudiou o caso.
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